terça-feira, 14 de junho de 2011

Espelho


Eu digo q não sei mais sonhar. Eu e minha mania de teimar em dizer o q penso, mesmo quando o q penso nada tem a ver com a verdade. A minha verdade, pelo menos.
Eu sei q já me viram melhor, q eu já tive mais viço, mais alma, mais paixão e mais vontade. Cobrei-me desejos dos vintes anos e agora já beiro os trinta. Cobro-me a luz q emprestei e esqueci de multiplicar, dividir e devolver.
As vezes acho q nada mais em mim se parece comigo, q nada mais resta de bom, de tudo q já conheci e tive querência, afeto, admiração. Eu falo comigo mesma. E me digo com tanta e com tamanha força q me despedaçei feio. Baqueei, tremi, suei frio e quente. Deixei-me levar por tristeza tão imensa q quase acreditei em tudo q eu mesma pensei. E com a mesma força.
Perdi o sono, a fome, a vontade. Perdi a fé, a esperança e tive medo, muito medo de ter morrido antes mesmo de viver tudo que eu pensei ter vivido. Tive medo de ter sonhado com tudo que achei tão meu, tão concreto, tão bonito e tão único. Tive medo de realmente não ser mais aquela menina. A que tudo enfrentava sem qualquer receio de não conseguir, a que buscava água na terra mais árida (e encontrava sempre), a que apostava, arriscava, com coragem e persistência.
Será q é tarde demais p/ nós...Será?!Será q nosso tempo já passou?!Será q foi só isso?!Mas até agora não colocamos um ponto final na nossa história... Será q  não há mais nada a ser feito por mim, comigo, para mim. Que os caminhos, todos, estavam fechados, apagados à minha frente. Que a luz no fim do túnel não existia, que os meus dias eram findos e minhas preces certamente não seriam mais ouvidas por Deus. E me falou em caridade... em caridade.
Ouvi tudo com amargo terrível nos lábios. Minhas lágrimas deixaram sulcos em meu rosto, marcaram a ferro a minha alma. Por onde passaram, arderam como brasa. Meu grito ficou contido na garganta, latejando, doendo, batendo forte _ como se o coração realmente pudesse me saltar à boca. Coração que eu já nem deveria ter, desde a separação. Já que tudo estava perdido em mim.
Mal sabia ele que havia um espelho em meu quarto, quando cheguei em casa. E que ele me salvou a vida.
Ainda havia em mim dois olhos. Dois olhos castanhos e lembranças. Lembranças coloridas. Havia também a música, que ouvi baixinho. Havia uma mãe, meus avós e meu irmão em mim.
Ainda havia em mim a coragem de chorar. Chorar tudo, recobrando a força, a vontade, o desejo, a fé. Quebrei meu silêncio, o jejum e todas as correntes que me travavam os pés.
Não, não é tarde. Não tenho mais vinte anos, não tenho mais a inocencia, não tenho mais todo o tempo do mundo. Tenho, no entanto, dignidade, herança boa...Tenho valentia de sangue gaúcho, tenho saudade, tenho lembranças e muita estrada atrás e á minha frente...
Bendito espelho que me fez enxergar quem sou. Bendito amor que me tenho, que me fez e que me leva a querer continuar vivendo e apostando em mim.

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