quinta-feira, 29 de setembro de 2011


O sol da manhã, entrando pela janela, envolve-me com suavidade. Sua luz ilumina-me, aquece-me, desperta-me da noite e do sono. Passo as mãos pelos braços, esfrego o meu rosto: a pele já não está tão seca. Respiro fundo e os meus pulmões são preenchidos por um ar agradável, fresco e limpo. Sinto o cheiro de terra molhada. A brisa matinal beija levemente minhas faces e traz-me o aroma das flores. Ouço o rebuliço de milhares de pássaros que se espantam, que se misturam, que se confundem num incessante bater de asas e nos seus múltiplos e variados gorjeios. Ouço a interminável conversa das maitacas e o canto inconfundível dos sabiás que se destaca do bulício das aves.

Realmente, chegou a Primavera. Chegou com toda sua força e beleza. A vida se renova e brota, e desabrocha nas suas mais variadas formas e cores. Há sempre um renascer. A vida renasce do frio, das sombras, das cinzas. Imagino o verde tomando conta das árvores, das folhagens, da relva, da grama. Imagino os canteiros floridos, os botões abrindo-se e lançando no ar os seus odores. A vida renova-se. Respiro a Primavera e ganho novo alento. Passo as mãos no meu corpo e jogo fora as células mortas. Passo as mãos em minha cabeça e arranco as idéias adormecidas, gastas, envelhecidas, inadequadas, extemporâneas. Meu coração pulsa mais forte. Como a seiva das árvores, o sangue corre livre em minhas veias. Vou ao jardim. Converso com as flores. Mas, “ que bobagem, as rosas não falam “. Não falam, mas elas sentem. Deslizo minhas mãos sobre elas. Com um leve toque alcanço suas pétalas ainda úmidas de orvalho. Ah! As rosas não falam: nem as rosas e nem as flores. Elas exalam o perfume . O eterno perfume primaveril da vida que nasce e renasce apesar dos outonos e dos invernos.
Chegou a Primavera!
Sinto-me com novo vigor e um novo ânimo. Quero viver e vivo. Deixo-me embriagar pela vida. Vida que não posso ver: nem o verde da relva, nem as cores dos pássaros e das flores, nem a delicadeza do orvalho cobrindo as pétalas de uma rosa. Porém, se não a vejo, eu sinto. Sinto-a com toda sua intensidade. Sinto a natureza que muda, o ar que se perfuma, as formas que perdem sua aridez e secura. Eu gostaria de rolar sobre a grama, abraçar todas as flores, voar como os pássaros, cantar. Cantar? Não! Prá que cantar? Basta escutar o gorjeio do sabiá que se destaca de todos os cantares e, forte, soberano, límpido, anuncia o advento de um novo tempo.

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